selmer - Pra começar...Mudança pra estéreo vale fm. Casa nova, novos desafios, novo horário do programa Por essas bandas, alguns atritos por causa da virada cultural. Como fica daqui pra frente?
Betão- Bom... é o seguinte! Geralmente mudança é complicada pra todo mundo que ta no meio dela. É igual mudar de casa.Dá trabalho, tem que remover as coisas.Mas é aquela história.Pra melhorar tem que piorar, não adianta! Enquanto você é funcionário e está trabalhando pra uma outra pessoa você sub-existe. Você tem que se adaptar as transformações que tão acontecendo. Nesse sentido eu to falando do mundo, mercado, business em geral.
selmer - Eu tava ouvindo o primeiro dia do programa Por essas bandas na estéreo vale FM e, você disse que foi muito bem recebido lá (Pô é verdade...) mas que já tem gente pegando no seu pé por que você criticou a virada cultural por não ter artista regional. Criando um conflito logo de cara.
Betão- Esse conflito existe desde os primórdios.É assim,a gente tende sempre e, isso é bíblico “o santo de casa não faz milagre” não adianta! Você tem artistas bons em casa, dentro de casa,na sala da sua casa .Mas o que acontece é que os caras acham que tem que trazer bandas de fora. E aí os caras anunciam que é uma banda de São Paulo, Rio de janeiro e com isso vai trazer um público maior pro seu evento.Sendo que pô... Os caras daqui são bons, tem capacidade.Vou citar a banda Voltz por que tem a ver com a virada cultural. A banda acabou de gravar um cd nacionalmente.Que é da globo! Pra quem acha que a band e a Record não é nada. É da globo a som livre.Os caras foram convidados pra tocar na cidade de Presidente Prudente na virada cultural.Por que eles não estão tocando na virada cultural de São Jose? Porque foi terceirizada a parada pra abranger mais cidades por uma “o.s” organização social. E aí o cara que ta fazendo isso só tem a obrigação de fazer a programação. Ele ta pouco preocupado com a banda que tem aqui ou ali, a banda que toca bem ou não toca, se é da cidade ou não é.Isso é uma coisa que não pode acontecer por que ta mexendo com o sonho das pessoas. O cara que toca numa banda e faz uma música não faz pra se divertir. O cara que vem no projeto por essas bandas, por exemplo, não ta a fim de fazer uma música pra tirar um barato. Senão ele ficava na garagem da casa dele. Ele não leva o cd na rádio porque quer aparecer na mídia. É o sonho do cara veio!..Aí o que acontece... Quando tem uma coisa regional que seria de grande destaque colocam uma pessoa...uma não! Todas as pessoas de fora. Isso aí é dolorido pra mim porque eu to há um ano fazendo isso...Um ano não, desde de 2002 na verdade, mas como projeto por essas bandas há um ano. Então pra mim é dolorido.
Selmer - Você é o cara que começou tudo isso. Então é legal falar do projeto por essas bandas por que , sei lá, daqui há dez anos as bandas que vão ta tocando vão lembrar do betão como idealizador dessa parada.
Betão- Bom, eu penso assim.O projeto Por essas bandas começou em 2007.Mas na verdade bem antes disso, quando eu vim pra São Jose em 2002, eu já sentia uma falta de espaço pras bandas regionais, pro artista regional. E havia na época a band FM,depois band FM radio jovem,band 97,5 e finalmente 97,5.Ou seja,varias mudança aconteceram.Desde de o começo em 2002 nós já fazíamos o projeto seleção brasileira pra levar o artista daqui pra tocar e convidar os amigos, os parentes por que não havia espaço nas casas noturnas. Era legal a banda que vinha de fora. Banda de são Paulo “pa” os caras ficavam a milhão pra ver.Então desde essa época eu comecei a me aproximar das pessoas, criar amizades com esses caras.Os músicos que a gente ouve hoje como por exemplo: mackzero5, trilhas e raízes, voltz, caos, que são bandas de maior repercussão, Peleco, Eva venenosa. Pô muitos desses caras iam à minha casa pra tomar cerveja à noite e tirar um som. Eu ficava pensando “pô esses caras são bons. Por que não tem um espaço na mídia?” Não adiantava os caras tirarem um som na minha casa.Eu queria que eles tivessem um espaço e daí foi surgindo à idéia... Então o ano passado, até que enfim, eu consegui convencer os caras da radio. Daí que surgiu essa parada que foi tomando forma, tomando forma e hoje quem gosta de música regional já ouviu falar do por essas bandas.
selmer - O que te deixa mais chateado hoje?Quando você diz na radio “apareçam em mais um projeto por essas bandas, prestigiem as bandas regionais”.E de repente chega lá no local do evento e tem uma meia duzia de pessoas. É falta de grana?O que acontece?
Betão – O que me deixa chateado e, na verdade é assim em qualquer outro meio são as pessoas oportunistas no meio daqueles que querem fazer o negócio mesmo.Isso não acontece só entre bandas. Acontece entre locutores,entre artistas,na empresa onde a pessoa trabalha,em todo lugar.Há pessoas que só querem ter um salário.Mas tem gente que quer crescer dentro da empresa.Tem banda que quer ser reconhecida, enquanto outras só querem tocar na garagem.Isso acaba atrapalhando as próprias bandas.Por quê?O projeto Por essas bandas consiste em uma banda apoiar a outra banda pra que as bandas não precisem de publico porque existe esse negócio de que só banda que vem de fora é legal.Então se você tem varias pessoas de bandas que vão, você já tem um público e aí não precisa de um público de fora.(Então não é uma questão de grana!)Não!... A questão está relacionada as bandas que querem trabalhar profissionalmente.Pessoas que querem ser músicos, querem que o seu som toque nas rádios.E mesmo os caras que tocam e trabalham em empresas, eles têm a esperança de que um dia aquilo vai dar certo e eles vão viver de música.E tem nesse meio bandas que só querem tocar na radio por status.O que às vezes acaba atrapalhando.Mas acaba rolando uma peneira natural de tudo isso.Como o que ta acontecendo agora.Vão ficando só as bandas que querem seguir adiante.Porque o projeto não dá nada pras bandas.Não é como os caras falam “pô o betão é legal”.O projeto não cobra um centavo das bandas, mas cobra a participação das bandas que tocam.E isso pra quem quer ficar na garagem e não quer levar a serio a parada é caro demais.Aí que rola uma peneira natural.Hoje em dia, graças a deus, pode ser que no evento tenha cinqüenta pessoas, mas são cinqüenta pessoas que gostam da música que ta tocando.Que valorizam as bandas.-É diferente ou igual- Você fazer um show dos Stones de graça no Rio de Janeiro pra dois milhões e meio de pessoas, sendo que hum milhão e meio das pessoas que foram lá curtem axé,pagode e funk.Não conhecem uma música dos Stones.Eles foram lá Porque não tinha nada pra fazer e era de graça.Saco!Nesse caso são cinco reais.Mas se o cara não gostar de música regional ou não tiver a fim de conhecer novos sons o cara fica meia hora e vai embora.Por que que o show dos Stones não foi igual ao do pearl jam ou do u2 em são Paulo?Porque o cara que foi nesses shows pagou e curtia as bandas.Sentiu o show e ajudou o show acontecer.Por isso o show dos Stones ficou frio e monótono.E é isso que não acontece com o Por essas bandas “graças a deus”.
selmer - Bom, hoje o betão é o cara que apóia as bandas.Se amanhã ou depois acontecer alguma coisa, tipo não rolar mais o projeto (morrer) risos... Ou sei lá, os caras chegar e meter o pé na sua bunda por que você ta enchendo o saco.E as bandas... os caras vão te apoiar.Você vai pra outra radio.Como é que fica?Falando do lado realista da história...
Betão - É tipo assim, uma coisa meio que imprevisível essa coisa do amanhã. Se eu não estiver mais aqui e tal.Eu não sou agenciador de bandas.As bandas não são minhas funcionárias.Eu não cobro um tostão das bandas. Diferente de muitas gravadoras que tem por aí. Eu não tenho esse interesse nem esse poder porque eu não sou dono da radio. Eu estou investindo numa coisa que eu acredito porque é uma coisa pessoal.Eu sabia o drama que era pra essas bandas tocarem e, na verdade foram eles que me motivaram.Eu não ganho dinheiro pra estar aqui apresentando as bandas.Só o da radio pra fazer o programa lá.Talvez um dia eu ganhe uma grana,talvez eu seja reconhecido.A intenção é mudar uma parada que existe e que é muito foda.A gente não consegue mudar muitas coisas que a gente não concorda porque depende de uma maioria.Eu to numa minoria que tem certeza que consegue mudar a parada e essa minoria ta comigo.Se conseguirmos somos vitoriosos. Eu sempre digo betão que as grandes transformações começaram a partir de uma minoria. A grande maioria vem depois e se junta a essa minoria.Sempre foi assim,não vai mudar!Tem sido assim na música, no cinema, na literatura... Alguns caras foram reconhecidos depois de morto. Eu espero que isso não aconteça comigo.Como você disse eu trabalho numa empresa que não é uma filantropia.Quando eles disserem - Betão você não serve - PÔ! To fora. Mas graças a deus eu não vivo só da grana da radio.Na verdade a radio é só uma vitrine pra continuar fazendo trabalhos que eu acredito.Espero que isso não aconteça porque eu quero continuar tendo o que oferecer pras bandas.Eu não posso ganhar todas as batalhas nem perder todas as batalhas. Eu sempre vou ser assim complicado lutando por coisas que pra maioria das pessoas são difíceis de acontecer.selmer - Pra finalizar eu perguntei pro Betão sobre as bandas de rock que ele ouve em casa. E a resposta foi a seguinte...Betão - Você vai se assustar!Eu fiz uma entrevista recentemente pruma revista e a moça me perguntou – Quem é o melhor artista pra você? - Eu disse Ney Matogrosso! - Não, não. Eu to falando sério - Eu disse é serio! O Ney Matogrosso no palco é o artista que tem a concepção antiga de que o artista ta ali pra servir o público que foi assisti-lo. Então você não é o fodão, o super star. O cara que veio te ver espera um cara performático. O Ney cantando Rosa de Hiroshima é uma coisa absurda .Ele cantando uma música que ninguém conhece porque a mídia no Brasil é tão hipócrita que divulgou o Ney cantando “Nunca vi rastro de cobra nem couro de lobisomem” .E a música Poema do Cazuza e do Frejat no Brasil ninguém conhece porque preferiram divulgar uma coisa mais fácil. E aí todo mundo vai falar “pô, mas o Betão curte rock”.Eu ouço Racionais Mc’s em casa porque eu penso que independente do estilo musical a música está na música. Você ouve uma música e acha boa ou não. Pra mim uma das melhores bandas de rock do Brasil foi o Ultraje a rigor porque a banda tinha um conceito bem humorado. Afinal o que é que passa?A imagem da banda ou a letra que música quer passar?No rock tem várias músicas que não prestam. Existem caras autênticos e existem caras fabricados. Pra mim O Raul Seixas era uma cara super autentico porque não era marketing.Tem uns caras no rock, principalmente de 93 pra cá que é uma pessoa com a câmera ligada e outra com a câmera desligada.O Raul Seixas era um cara que tomava vodka com suco de laranja porque ele era daquele jeito. Era autentico! Você não joga a cadeira do quarto do hotel só porque a câmera ta filmando.
ENTREVISTA REALIZADA em MAIO de 2008 no " HOCUS POCUS ESTÚDIO E CAFÉ ".
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